TEMPO
Ana Lua Tavares

Vivemos numa sociedade em exponencial aceleração: temos horários e tempos definidos para apanhar o autocarro, para chegar ao trabalho, para ir buscar os filhos à escola. Numa sociedade em que o tempo é um bem precioso, em que o tempo é dinheiro, o tempo perde-se e ganha-se.

TEMPO retrata esta sociedade através dos seus vestígios e de um pequeno epifenómeno que reflete essa constante aceleração – os atalhos criados em espaços relvados ou descampados e desenhados no espaço pela constante passagem de pessoas.

Cada uma destas imagens impele-nos a tentar descobrir os motivos pelos quais se criam e utilizam estes caminhos. A sua localização é recorrente: perto de estações de metro, de paragens de autocarro, de escolas, de faculdades, etc. Existem por vezes caminhos que não foram feitos a pensar na necessidade efectiva dos seus utilizadores. O trauseunte, enquanto entidade coletiva, corrige o erro e oferece uma alternativa – às passagens oficialmente desenhadas e num ângulo de quase 90º, opõem-se diagonais orgânicas (como a hipotenusa de um triângulo). Poderíamos ainda analisar outros fatores que constribuem para estes gestos, como a questão cultural – provavelmente na Alemanha, no Japão ou na Noruega não se criariam estes caminhos, pelo simples facto de não quererem pisar a relva, de quebrar as regras ou opor-se ao planeamento urbano.

Estes caminhos alternativos refletem então a nossa constante necessidade de agenciamento nos lugares que habitamos e ainda a nossa urgência em poupar tempo, mesmo que por vezes signifiquem apenas a poupança de um mero segundo.